Skip to main content

Brasilia (Brasil), 2 de setembro de 2014. Por  Renato Bernhoeft.

A velhice é na história das culturas e da evolução de nossa sociedade algo muito novo: sempre foi uma improbabilidade de vida e uma experiência de uma minoria. As pesquisas neste campo não têm 50 anos… As pessoas idosas de hoje são a vanguarda de uma incrível revolução de nossa longevidade, elas estão anunciando uma transformação de toda estrutura social e fazendo com que a vida e a morte apareçam sob nova luz”, diz Frank Schirrmacher, que morreu em junho.

As questões relativas ao envelhecimento têm se tornado, a cada dia, um tema da maior relevância na sociedade moderna, não apenas quando observado nas perspectivas das estatísticas ou da geriatria. É assunto que envolve administradores, economistas, publicitários, estrutura familiar, políticas públicas, empresas, mundo artístico, turismo, saúde…enfim, todas as áreas que tem algum interesse ou impacto sobre o comportamento humano.

Mas ao mesmo tempo é tema sobre o qual a literatura e os estudos ainda são escassos. Razão pela qual o livro “A revolução dos idosos – o que muda no mundo com o aumento da população mais velha”, do jornalista e filósofo alemão Frank Schirrmacher (1959-2014), reveste-se de grande interesse para todos nós que participamos, ativa ou passivamente, deste mundo.

Embora ele trate do tema numa perspectiva da realidade europeia, e em alguns momentos mais especificamente da Alemanha, deve ser lido com atenção mesmo nos chamados “países emergentes”, como é o caso do Brasil.

Neste assunto é tudo muito novo, e segundo o autor “todos nós conhecemos a juventude, todos nós já passamos por ela. Observamos os jovens com um sorriso, sentimos inveja e tentamos copiá-los. Todas as culturas conheceram a juventude, porque todos fomos jovens algum dia, mas poucos conheceram a velhice. A velhice é na história das culturas e da evolução de nossa sociedade algo muito novo: sempre foi uma improbabilidade de vida e uma experiência de uma minoria. As pesquisas neste campo não têm 50 anos, uma área que foi até hoje muito pouco explorada. As pessoas idosas de hoje – segundo o biólogo Tom Kirkwood – são a vanguarda de uma incrível revolução de nossa longevidade, elas estão anunciando uma transformação de toda estrutura social e fazendo com que a vida e a morte apareçam sob nova luz.

Como exemplo deste crescimento, a 11 edição do dicionário Merrian-Webster (Aurélio dos americanos) “registrou nos últimos quatro anos 10.000 novos verbetes, dos quais, pela primeira vez, as áreas de saúde e medicina ultrapassaram áreas de tecnologia e informática. E 40% destes termos médicos estão relacionados de um modo ou de outro à longevidade humana.”

Quando olhado na perspectiva da geografia econômica também podem ser previstos alguns impactos que devem afetar profundamente países e suas relações internacionais. “O envelhecimento poderá se tornar – como uma epidemia que contamina o globo – um assunto do noticiário diário, o agequake, nomeado pelos americanos. Não é por menos que Peter G. Peterson prevê que a linha de pobreza não será mais a que existe hoje entre o norte e o sul, mas cada vez mais a que existirá entre os países jovens e aqueles com uma grande população idosa.”

Referindo-se ao mercado especificamente, diz Frank que “os executivos da área de publicidade e da indústria do cinema aparentemente ainda não entenderam que a situação mudou. E é deles que depende a maneira de como os idosos do futuro vão viver seus papéis sociais e, mais importante ainda, a maneira de como a juventude que está crescendo será incluída no grande processo de transformação da sociedade. Quem não envelhecer junto com os grupos etários, não terá chance alguma. A população que está nascendo é pequena demais, e seu poder de compra não é suficiente para competir com a dos mais velhos.”

Os impactos serão inúmeros e o autor mostra-se bastante abrangente no tratamento dos mesmos. Inclusive ele relata a atual experiência do preconceito que vem ocorrendo na Europa – Alemanha especialmente – dos mais jovens com relação aos idosos, o que aparece também sob formas de violência.

Muitos avós vão compartilhar entre si poucos netos

Falando de algumas questões na estrutura da família, Frank cita o sociólogo Peter Schimany, que prevê “uma nova relação histórica de escassez, na qual teremos uma falta de parentes e, principalmente, um desaparecimento de netos. O papel dos avós, com o qual muitos idosos antigamente podiam provar sua utilidade social, terá importância cada vez menor. Muitos avós vão compartilhar entre si poucos netos.”

Nossas sociedades não conhecem transições entre a juventude e a velhice, a saúde e a doença, entre a ingenuidade e a sabedoria. Segundo Frank, em nossa sociedade “a vida está subdividida – como no processo de produção de uma mercadoria – em três partes: a juventude, a vida profissional e a velhice. Nenhuma das partes tem algo a ver com as outras.”

Finalmente vale um registro que consta do livro. Um estudo feito, por 20 anos em uma comunidade do estado americano de Ohio, demonstrou que aqueles que consideravam o envelhecimento uma fase realizada de suas vidas e que pensavam de maneira positiva sobre os idosos, viveram, em média, sete anos e meio mais que os que não esperavam nada da velhice.

Portanto, recomendo a leitura de “A revolução dos Idosos” (Editora Campus, 190 páginas), de  Frank Schirrmacher, não apenas para aqueles que estão se aproximando – ou já estão – nesta fase. Sua leitura pode abrir inúmeras perspectivas para análises pessoais e profissionais.

(*) Renato Bernhoeft é presidente da Höft Consultoria. Parceiro da Anagatu IDH em Programas de Pós Carreira.

 Fuente: Portal do Envelhecimento

Leave a Reply